Cernunnos: Deus , Mito, Lenda
O DEUS:
Por
causa de seus chifres (e representação ocasional de um grande, ereto
falo) Cernunnos tem sido muitas vezes mal interpretado pelos
fundamentalistas como um símbolo de Satanás. Certamente, às vezes, a igreja cristã tem apontado para a seita Pagã de Cernunnos como "adoração do diabo." Isto é em parte devido às pinturas do século XIX de Satanás que
incluíam grandes, chifres de carneiro muito parecidas com as de
Cernunnos.
O Deus Cornífero é o Deus fálico da fertilidade. Geralmente é
representado como um homem de barba com casco e chifres de bode. Ele é o
guardião das entradas e do circulo mágico que é traçado para o ritual
começar. É o Deus pagão dos bosques, o rei do carvalho e senhor das
matas. É o Deus que morre e sempre renasce. Seus ciclos de morte e vida
representam nossa própria existência.
Ele nasce da Deusa, como seu complemento e carrega os atributos da
fertilidade, alegria, coragem e otimismo. Ele é a força do Sol e da
mesma forma , nasce e morre todos os dias, ensinando aos homens os
segredos da morte e da renascimento.
Segundo os Mitos pagãos o Deus nasceu da Deusa, cresceu e se apaixonou
por Ela. Ao fazerem amor a Deusa engravida e quando chega o inverno o
Deus Cornífero morre e renasce quando a Deusa dá a luz. Este Mito contém
em si os próprios ciclos da natureza onde no Verão o Deus é tido como
forte e vigoroso, no outono ele envelhece, morre no inverno e renasce
novamente na primavera.
Para a maioria pode aparentar meio incestuoso, quando afirma-se que o
Cornífero seja filho e consorte da Deusa, mas isto era extremamente
comum aos povos primitivos onde os indivíduos se casavam entre os
próprios familiares para conservar a pureza da raça. Além disso
simbolismo do Mito deve ser observado, pois todas as coisas vieram do
ventre da Grande Mãe inclusive o próprio Deus e por isso para Ela Ele
deve voltar.
O culto aos Deus Cornífero surgiu entre os povos que dependiam da caça,
por isso Ele sempre foi considerado o Deus dos animais e da fertilidade,
e ornado com chifres, pois os chifres sempre representaram a
fertilidade, vitalidade e a ligação com as energias do Cosmos. Além
disso a Bruxaria surgiu entre os povos da Europa, onde os cervos se
procriam com extremada abundância, por isso eram freqüentemente caçados,
pois eram uma das principais fontes de alimentação.
Com a crescimento do Cristianismo e com a intenção do Clero em derrubar
Bruxaria, a figura atribuída ao Deus Cornífero acabou por personificar o
Diabo e na atualidade resgatar o status deste importante Deus torna-se
bastante difícil.
O Deus Cornífero representa a luz e a escuridão, a imortalidade e a
morte, a interrupção a continuidade. Cernunnos, como também é chamado,
simboliza a força da vida e da morte. É o amante e filho da Deusa, o
senhor dos cães selvagens e dos animais. É ele que desperta-nos para a
vida depois da morte. Representa o Sol, eternamente em busca da Lua.
Seus chifres na realidade representam as meias-luas, a honraria e a
vitalidade e não uma ligação com o Diabo.
Ainda hoje existe muito confusão a cerca da Bruxaria e isto se deve a
Igreja Medieval que transformou os Bruxos antigos em Feiticeiros do
Demônio, por conveniência.
O culto à Deusa Mãe e aos Deus Cornífero é pré-cristão, surgiu milênios
antes do catolicismo e do conceito de Demônio, o qual jamais foi
adorado, invocado, cultuado e reverenciado nas práticas pagãs ou como
deidade da Bruxaria.
A Arte Wiccaniana remonta os homens das cavernas e para entendermos o
porque uma divindade com chifres foi reverenciada pelos Bruxos de
antigamente e é reverenciada até hoje pelos Bruxos modernos temos que
pensar como nossos antepassados.
Os chifres sempre foram tidos como símbolo de honra e respeito entre os
povos do neolítico. Os chifres exprimem a força e a agressividade do
touro, do cervo, do búfalo e de todos animais portadores dos mesmos.
Entre os povos do período glacial uma divindade era representada com
chifres para demonstrar claramente o poder da divindade que o possuía.
Quando o homem saia em busca de caça, ao retornar à sua tribo colocava
os chifres do animal capturado sobre a sua cabeça, com a finalidade de
demonstrar a todos da comunidade que ele vencera os obstáculos. Graças a
ele todo clã seria nutrido, ele era o "Rei". O capacete com chifres
acabou por se tornar em uma coroa real estilizada.
Muitos Deuses antigos como Baco, Pã, Dionísio e Quíron foram
representados com chifres. Até mesmo Moisés foi homenageado com chifres
pelos seus seguidores, em sinal de respeito aos seus feitos e favores
divinos.
Os chifres sempre foram representações da luz, sabedoria e conhecimento
entre os povos antigos. Portanto como podemos perceber, os chifres desde
tempos imemoráveis foram considerados símbolos de realeza, divindade,
fartura e não símbolo do mal como muitos associaram e ainda
associam-nos.
O Deus Cornífero é então o mais alto símbolo de realeza, prosperidade,
divindade, luz sabedoria e fartura. É o poder que fertiliza todas as
coisas existentes na terra.
A Grande Mãe e o Deus Cornífero representam juntos as forças vitais do Universo
PRINCÍPIO MASCULINO DO DEUS
Da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da
energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento, e trazendo
em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e
alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe, todos os dias, o Deus
nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Na Wicca, o Deus
nasce da Grande Mãe, cresce, se torna adulto, apaixona-se pela Deusa
Virgem, eles fazem amor, a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno e
renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que coincide com
os ciclos da Natureza, e mostra os ciclos da nossa própria vida. Para
alguns, pode parecer meio incestuoso que o Deus seja filho e amante da
Deusa, mas é preciso perceber O verdadeiro simbolismo do mito, pois do
útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará.
E, se pensarmos bem, as mulheres sempre foram mães de todos os homens,
pelo seu poder de promover o renascimento espiritual do ser amado e de
toda a Humanidade. O sentido profundo do simbolismo na Bruxaria só pode
ser verdadeiramente entendido através da meditação e do contato
intuitivo com a energia dos Deuses. O Deus tem sido reverenciado há
eras.
Ele não é a deidade rígida, o Todo-Poderoso do cristianismo ou do
judaísmo, tampouco um simples consorte da Deusa. Deus ou Deusa, eles são
iguais, unidos. Vemos o deus no Sol, brilhando sobre nossas cabeças
durante o dia, nascendo e pondo-se no ciclo infinito que governa nossas
vidas. Sem o Sol, não poderíamos existir; portanto, ele tem sido
cultuado como a fonte de toda a vida, o calor que rompe as sementes
adormecidas, trazendo-as para a vida, e instiga o verdejar da terra após
a fria neve do inverno.
O Deus é também gentil com os animais silvestres. Na forma do Deus
Cornudo, ele é por vezes representados por chifres em sua cabeça ,que
simbolizam sua conexão com tais bestas. Em tempos mais antigos,
acreditava-se que a caça era uma das atividades regidas pelo Deus,
enquanto a domesticação dos animais era vista como voltada à Deusa. Os
domínios do deus incluíam as florestas intocadas pelas mãos humanas, os
desertos escaldantes e as altas montanhas.
As estrelas, por serem na verdade sóis distantes, são por vezes
associadas a seu domínio. O ciclo anual do verdejar, amadurecer e da
colheita vem há muito sendo associado ao Sol, daí os festivais Solares
da Europa, os quais são ainda observados na Wicca.
O Deus é a colheita plenamente madura, o vinho inebriante extraído das
uvas, o grão dourado que balança num campo, as maçãs vicejantes que
pendem de galhos verdejantes nas tardes de outono. Em conjunto com a
Deusa, também ele celebra e rege o sexo. A Wicca não evita o sexo ou
fala sobre ele por palavras sussurradas.
É uma parte da natureza e assim é aceito. Por trazer prazer, desviar
nossa consciência do mundo cotidiano e perpetuar nossa espécie, é
considerado um ato sagrado. O Deus nos imbui vigorosamente no desejo que
assegura o futuro biológico de nossa espécie.
Símbolos normalmente utilizados para representar ou cultuar o Deus
incluem a espada, chifres, a lança, a vela, ouro, bronze, diamante, a
foice, a flecha, o bastão magico, o tridente, facas e outros.
Criaturas a ele sagradas incluem o touro, o cão, a cobra, o peixe, o
dragão, o lobo, o javali, a águia, o falcão, o tubarão, os lagartos e
muitos mais. Desde sempre, o Deus é o Pai do Céu, e a Deusa a Mãe da
Terra.
O Deus é o céu, da chuva e do relâmpago, que desce sobre a Deusa e
une-se a ela, espalhando as sementes sobre a terra, celebrando a
fertilidade da Deusa.
A CHAMADA DO DEUS
Sou o radiante Rei dos Céus, inundando a
Terra com calor encorajando a semente oculta da criação a germinar-se em manifestação.
Ergo minha brilhante lança para iluminar as vidas de todos os seres e diariamente
despejar meu ouro sobre a Terra, expulsando as forças das trevas.
Sou o mestre dos animais selvagens e livres.
Corro junto ao ágil gamo e pairo como um falcão sagrado no céu cintilante.
Os antigos bosques e locais silvestres emanam meus poderes, e as aves voadores
cantam minha santidade.
Sou ainda a última colheita, oferecendo grãos e frutos entre a foice do tempo,
para que todos sejam alimentados, pois sem a plantação não pode haver colheita;
Sem inverno, não haverá primavera.
Cultue-me como o sol da criação de mil nomes, o espírito do gamo cornudo nos
bosques, a infindável colheita.
Observe no ciclo anual dos festivais o meu nascimento, minha morte e meu renascimento
- e saiba que este é o destino de toda a criação.
Sou a centelha de vida, o radiante sol, o que dá paz e descanso, e envio meus
raios de bênçãos para aquecer os corações e fortalecer as mentes de todos.
História e funções
Cernunnos
é, com toda a probabilidade, a mais antiga divindade de seu panteão. Há
sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Não
podemos esquecer que, se boa parte da Europa foi colonizada por sua
cultura, as zonas por eles controladas já estavam ocupadas por outros
povos com os quais por força tiveram de fundir-se para subsistir, não
havendo motivo para que suas crenças fossem aniquiladas.
Independentemente
de sua origem, Cernunnos, o deus de chifres, desempenha uma função
importante não só por se tratar do Senhor dos Animais — domésticos ou
selvagens —, mas também da Fertilidade e da Abundância — regulando as
colheitas dos grãos e das frutas. Posteriormente, foi considerado também
o deus do dinheiro. Os romanos quiseram identificá-lo com o seu
Dis-Pater, que tinha influência sobre os mortos, apesar de as funções de
Cernunnos não coincidirem por completo.
Sua
primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre
rocha datada do século IV a.e.c. encontrada no norte da Itália. Ali ele
já aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres
na cabeça e dois torques em cada braço. O torque — uma espécie de colar
torcido com as extremidades em forma de argola — é um atributo de poder e
às vezes de realeza utilizado pelos grandes chefes ou pelos guerreiros
mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade
celta e devia ser colocado apenas no pescoço ou nos braços: trata-se de
uma série de tiras de metais preciosos entrelaçados em meio a um
charmoso desenho em espiral nas formas de colar e pulseira que não
fechavam.
Ao
lado da imagem de Cernunnos encontrada no norte da Itália estava
desenhada uma serpente — símbolo da fertilidade, do renascimento e da
sabedoria que mais tarde foi satanizado — com cabeça de carneiro e uma
figura com o pênis ereto — concedendo uma idéia de ferocidade. Imagens
similares podem ser encontradas em toda a Europa.
Freqüentemente
é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros,
que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por
serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em
algumas ocasiões, aparece sentado na posição de Buda. Encontramos seu
nome escrito em apenas uma ocasião: em um relevo em sua homenagem
elaborado por marinheiros do inicio do século II d.e.c., no qual, além
dos chifres, o deus tem orelhas de cervo.
Sua
imagem mais famosa é a do caldeirão de Gundestrup, um charmoso
recipiente de prata de 36 centímetros de altura utilizado em rituais e
que foi encontrado na Jutlândia, Dinamarca, quebrado em cinco pedaços. A
peça foi reconstituída para que pudesse ser admirada em toda a sua
beleza. Neste caldeirão, Cernunnos senta-se com as pernas cruzadas, com
um torque no pescoço e outro na mão direita e segura uma serpente com a
mão esquerda. Das figuras que o acompanham, destacam-se um cervo de um
lado e o que poderia ser um javali do outro lado. Também aparece um
homem montado em um salmão — o peixe da sabedoria — e dois animais da
mesma espécie que se enfrentam. Outro relevo em pedra — este encontrado
no sudoeste da Inglaterra — o mostra com as pernas formadas por duas
grandes serpentes com cabeça de carneiro sobre algumas bolsas de
dinheiro colocadas ao lado do deus. Em uma moeda de prata inglesa, ele
aparece com uma roda, signo solar, entre os chifres.
Os
deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria
e de poder. Na Antigüidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser
levadas apenas pelos mais viris, e não no sentido em que são entendidas
vulgarmente nos dias de hoje, como indivíduos muito fortes e agressivos,
mas no da própria etimologia latina. Um tipo viril era um homem com
todas as letras, dotado de todas as qualidades presumíveis, mas
demonstradas apenas por indivíduos reais: valor, honra, masculinidade,
entre outros. Os chifres mostravam, além de tudo isso, que esse
individuo desfrutava de sabedoria sobre o mundo.
Um
conto popular gaélico fala sobre viajantes que chegam a uma ilha
misteriosa na qual encontram apetitosas maçãs. Após mordê-las, chifres
crescem em suas testas e eles passam a compreender muitas coisas que
acontecem ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que tais chifres
apareciam na cabeça dos melhores guerreiros quando eles se preparavam
para o combate há muito tempo, ainda na “infância” da humanidade. Os
vikings são popularmente mostrados como terríveis piratas que usavam
capacetes com chifres. Porém, eles nunca levavam adornos semelhantes aos
combates, pois isso representaria um grande incômodo se realmente o
fizessem. Na verdade, utilizavam capacetes lisos, quase sem ornamentos,
muito mais práticos. Os capacetes com chifres eram utilizados apenas em
cerimônias religiosas. Uma das famosas esculturas de um dos maiores
artistas de todos os tempos, Michelangelo Buonarrotti, é sua
representação de Moisés. A obra, que data do século XVI, mostra dois
chifres e encontra-se na basílica de São Pedro, em Roma.Cernunnos é um deus chifrudo encontrado na mitologia celta. Ele
está conectado com animais machos, particularmente o veado no cio, e
isso levou-o a ser associado com a fertilidade e vegetação. Representações de Cernunnos são encontrados em muitas partes das Ilhas Britânicas e da Europa Ocidental. Ele
é frequentemente retratado como selvagem de barba e cabelo desgrenhado
- ele é, afinal, o senhor da floresta.
Com seus poderosos chifres, Cernunnos é um protetor da floresta e mestre da caça. Ele é um deus da vegetação e tem aspecto de árvore como o Homem Verde, e um deus da luxúria e da fertilidade quando conectado com Pan, o sátiro grego. Em algumas tradições, ele é visto como um deus da morte, e guia os mortos cantando para eles no seu caminho para o mundo espiritual.
No livro Deus das Bruxas, de 1931 a autora Margaret
Murray, postula que Herne o "Caçador" é uma
manifestação de Cernunnos. Porque
ele é encontrado apenas em Berkshire, e não no resto da área de
floresta de Windsor, Herne é considerado um deus "localizado" - e
poderia realmente ser a interpretação em Berkshire de Cernunnos. Durante a época elizabetiana, Cernunnos aparece como Herne em As Alegres Comadres de Windsor, de Shakespeare. Ele também incorpora lealdade ao reino e guardião da realeza.Em algumas tradições da Wicca, o ciclo das estações segue a relação entre o Deus Chifrudo - Cernunnos - e a Deusa. Durante o inverno, o Deus Chifrudo morre, como a vegeção e entra em
estado dormente, e na primavera, no Imbolc, ele é ressuscitado para
impregnar a deusa fértil da terra. No entanto, essa relação é um conceito relativamente novo neopagão, e
não há nenhuma evidência acadêmica para indicar que os povos antigos
poderiam ter comemorado este "casamento" do Deus Chifrudo coma
deusa-mãe.
Hoje,
muitos Pagão e tradições da Wicca honram Cernunnos como, a personificação da energia masculina da fertilidade e poder.